05 março 2010

O melhor sítio do mundo para recuperar forças

Manuela Gonzaga- Lisboa - Portugal
Imaginem uma pequena terra no interior do Brasil, a 140 km de Brasília, cujas ruas se enchem de gente vestida de branco a partir das 7.30h da manhã de todas as Quartas, Quintas e Sextas-feiras, rumo à Casa Dom Inácio, em Abadiânia, verdadeiro «centro de milagres» para onde desaguam pessoas do mundo inteiro em busca de tratamento. Quase todas chegam aqui pela grande porta da Dor, quando todas as respostas da medicina convencional falharam. Mas vêm também de mão dada com a Esperança, ao encontro de João Teixeira de Faria, João de Deus, como já é conhecido no mundo inteiro, que executa tratamentos e curas extraordinárias.
A terra cresceu à volta deste fenómeno inexplicável. As pousadas e lojas que bordam a rua principal e algumas das ruas secundárias, pertencem a pessoas que foram curadas de forma «inexplicável».


Pensem numa doença: está aqui representada, do cancro à Sida, da cirrose à esclerose, da doença mental à adição a drogas. Cegos, paralíticos, surdos, cancerosos. A pé, em cadeiras de rodas, de muletas. De todas as partes do mundo. Na pousada Catarinense, onde fico, está um grupo de iranianas. Nove mulheres lindíssimas, um homem. Vieram de Teerão acompanhar a tia que tem um cancro e a quem o médico, há seis meses, lhe deu um mês de vida. Um grupo de austríacos. Um casal alemão, com o filho em cadeira de rodas. Um grupo de brasileiros que viajaram 36 horas de ônibus do sul do Brasil, para estar aqui esta semana. Muitos já não vêm pela primeira vez, mas para acompanhar tratamentos demorados. São os mais alegres, porque o processo de cura já começou, e nalguns casos, muitos, a dor física que os acompanhou durante anos, já desapareceu.
 Chega a parecer, na Casa Dom Inácio e na própria terra onde nada de especial acontece para além dos «milagres», que estamos numa estância de férias. O Bom-dia na sala de entrada da Casa é dito em inglês, francês, russo, alemão, espanhol, italiano, e, evidentemente, português. Há crentes de todos os credos. Mas também ateus ou agnósticos. O sagrado, aqui, é traço de união não de fronteira. Há alegria, algazarra, mas também silêncios e partilha e, por vezes, uma grande comoção. Muitos dos que foram curados continuam a voltar para ajudar como voluntários. Há estudos científicos publicados, teses académicas defendidas em universidades de várias partes do mundo. 
 Falo com médicos, políticos, universitários, professores, empresários, a par de pessoas quase ou totalmente analfabetas. Todos dizem o mesmo: nada do aprendemos sobre doença, saúde, morte e vida, parece fazer aqui algum sentido.


Não estava, não estou doente. Não tinha nada de especial a pedir, a não ser o que todos nós desejamos ao longo da nossa breve vida: que os que amamos estejam bem e se cumpram. E que a força da alegria e do entusiasmo não nos falhe no trajecto. Basicamente fui descansar, levada por uma amiga, Andrea, que ali acabou de construir uma casa e que insistiu comigo que aquele local era o melhor sítio do mundo para recuperar forças. De modo que não posso referir sirenes divinas a soprar nos ouvidos, ou a visão de luzes celestiais. Foi mais profundo. Uma indizível plenitude, na quase palpável corrente energética, espiritual e amorosa que se derrama por todo o lado. Um mergulho interior muito denso e por vezes doloroso. Uma vontade incontornável de silêncio. Uma paz imensa. Comovente, estimulante, muito gratificante, mas... também muito exigente. Um privilégio que agradeço do coração.

(Texto de: Manuela Gonzaga no Blog http://www.gonzagamanuela.blogspot.com/ )

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